Mariana Palma é certamente uma das melhores pintoras da sua geração, embora a sua obra permaneça aberta a muitas outras formas de criação: entre telas, bordados em larga escala e pinturas com fotografias, instalações com velas suspendas... Mariana cria um conceito de natureza morta contemporânea forjada com elementos vivos e em decomposição, elementos da pintura clássica e objetos considerados residuais, mesclando o nobre e o residual. As suas obras se completam e se relacionam com outros trabalhos previamente exibidos no MON no contexto da exposição “Afinidades II”, formando paralelos com a pintura e a instalação da artista que já integram o acervo.
Ela redefine o tema clássico de “Nature Morte” para lhe dar uma nova dimensão, estética mas também social, juntando-se à lista chave de artistas que estão repensando o mundo do Antropoceno. Num mundo que parece estar a chegar ao fim, os temas que aborda metaforicamente parecem ser os únicos que um artista digno desse nome deveria considerar hoje. Mas “Tramas e Enlaces” é uma exposição poética positiva. Se ela fala de vida e de morte, é para enfatizar o ciclo natural e a delicada ligação entre as passagens da existência. Com ela, se certas cores são fortes, como o que a natureza pode oferecer, nada é forçado ou violento. Ela lhe oferece essas metamorfoses do mundo para que você as aprecie melhor e, sem dúvida, lhe dê o apetite para preservá-las.
O resultado são composições inesperadamente harmônicas e enigmáticas que, ao causar certo estranhamento, convidam o espectador a tomar tempo para observação. A contemplação revela indícios genéticos. A ‘grandeza’, a dramaticidade, a exuberância emocional, a vitalidade, a construção do movimento, o uso de texturas contrastantes e materiais luxuosos revelam o diálogo com a pintura barroca dos séculos XVI e XVII, evocando reflexões sobre a sensualidade, a efemeridade da beleza, o bombardeio de imagens da atualidade.
“Tramas e Enlaces” é uma exposição que explode códigos clássicos adicionando um toque contemporâneo revolucionário para redefinir de forma inteligente a natureza morta de hoje.